quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Lembrança

Ganhei flores. Sentei à mesa, soprei as velas e não comi um brigadeiro sequer. Esbanjei carinho. O dia era aquele, mas nem precisava. Todos os outros já eram. 
Então desencanei.

Abracei da mesma forma que amassava as almofadas fofinhas. Ganhei umas bobagens eletrônicas que deterioraram com o tempo. Não alcançaram nem a doação. As paredes mudaram de cor. O cachorro cresceu e chegou a destruir aqueles sapatinhos coloridos de boneca. O Allstar perdeu seu lugar para uma coleção de scarpins de mulher. Falar mais de meia hora ao telefone agora, nem pensar. O uniforme acabou virando pano de chão. Já bem dirijo, mas o velho carro não existe mais. O cabelo mudou tantas vezes de tamanho e cor, e mantive durante longos meses os olhos desviando dos novos reflexos de retrovisor. 

Mesmo assim, não pude evitar. 

O tempo passou em casa e rasgou a ultima lembrancinha que restava de você: a memória. Um pacotinho azul meio estragado caiu do armário um dia desses, antes do meu aniversário. Fui nessa onda de sustentabilidade e reciclei. Deixo aqui registrado como forma de lembrança. Depois de hoje, provavelmente, todo o azul cintilante vá se tranformar em algo útil, que nem o tempo não consiga acabar: ecobag de plástico, pode ser?
Uma boa alternativa pra trazer da feira aquelas frutas sazonais que eu nunca mais vi para vender. 
Quem sabe no verão.

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