Ganhei flores. Sentei à mesa, soprei as velas e não comi um
brigadeiro sequer. Esbanjei carinho. O dia era aquele, mas nem precisava. Todos os
outros já eram.
Então desencanei.
Abracei da mesma forma que amassava as
almofadas fofinhas. Ganhei umas bobagens eletrônicas que deterioraram com o tempo.
Não alcançaram nem a doação. As paredes mudaram de cor. O cachorro cresceu e
chegou a destruir aqueles sapatinhos coloridos de boneca. O Allstar perdeu seu
lugar para uma coleção de scarpins de mulher. Falar mais de meia hora ao
telefone agora, nem pensar. O uniforme acabou virando pano de chão. Já bem
dirijo, mas o velho carro não existe mais. O cabelo mudou tantas vezes de tamanho e cor, e mantive durante longos meses os olhos desviando dos novos reflexos de retrovisor.
Mesmo assim, não pude evitar.
O tempo passou em casa e rasgou a ultima lembrancinha
que restava de você: a memória. Um pacotinho azul meio estragado caiu do armário um dia desses,
antes do meu aniversário. Fui nessa onda de sustentabilidade e reciclei. Deixo
aqui registrado como forma de lembrança. Depois de hoje, provavelmente, todo o azul cintilante vá se tranformar em algo útil, que nem o tempo não consiga acabar: ecobag de plástico, pode ser?
Uma boa alternativa pra trazer da feira aquelas frutas sazonais que eu nunca mais vi para vender.
Quem sabe no verão.
incrivel como sempre.
ResponderExcluir