domingo, 5 de dezembro de 2010

Inverno e duas flores


Quando fui marido, tive duas flores. Lótus e Jasmim. Reguei vontades pela manhã, tardes cheias de cores e pela noite, dei a elas o mistério.
Cheguei com prosa e fiz lótus me querendo bem. Era moça doce de água. Naveguei a ela as primeiras viagens. Tive sempre o cuidado de separar as pétalas vermelhas das azuis. Mas ela foi teimosa. Geminiana, criou sonhos idênticos aos meus. Caiu em desespero quando viu que eu não pertenci a ela, senti a dor de me afastar pra não vê-la sofrer.
Se lótus fez-se amor em singularidade, Jasmim fixava aromas em todo lugar. Sempre lembrarei dela. Intensa e severa. Confesso que me confundi em enigmas seus. Eu, que não fui bobo nem nada, a visitava em dias opostos do mês. Chovi em incertezas, e para garantir suas flores sempre belas, decidi vê-la nascer sempre em terreno alto. Por tempos, só me fiz dela. Lótus sempre desconfiou de uma preferência, mas não era nada em particular.  Preferi apenas as alturas, e Jasmim tomou pouco a pouco todas elas.
Dei partida, a primavera derretia sutilmente cada orvalho meu. “As cores devem continuar”, disse às duas. Em pranto, Lótus me garantia a eternidade. Jasmim, orgulhosa, preferiu jurar que nunca me pertenceu. Demonstrou desafeto, mas o abraço tênue deixou a farsa escapar. Abracei Lótus, e num ultimo olhar sincero parti rumo a uma nova estação.