quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Desabotoar

Hoje vai ser a noite mais difícil. "Você tem que ser forte". Escuto praticamente o tempo inteiro.  Mas é véspera de feriado e a o afastamento me consome. Acender o abajur agora é desconforto.

Delimita fronteiras nas minhas idéias. Eu chego em casa, acendo a luz e sinto fome. Mas não como, falta vontade. Chocolate perde o gosto, mas eu insisto. Bebo água e quase choro, parece banho... Nosso. Na nossa varanda tá tudo tão bonito. As luzes sempre acesas, quietude. O movimento leve do cachorro pesado, o movimento pesado do cachorro leve. Eu abaixo, passo um carinho bem demorado nos dois... Que gostoso! Cada um deles em seu fluxo, ritmicamente vão se virando para mim. Parecem perguntar onde é que, o que me falta, está.

Entro em casa, Djavan roda sem parar. Último cd que ficou no dvd da sala. Insistência. Ninguém olhando e eu quase choro. Não consigo ficar uma semana sem aquela sua camisa cheia de botões cerados. Achei que conseguiria. Deve ser a solidão, não tem nada além de mim dentro de casa. Na minha memória, eu sinto o toque. Entreponho minha mão entre as frestas, eles vão abrindo sem receio. Botões rasgando. Sem esforço, desabotoam. Desabam a toa. É nessa hora: eu desabo. 

Falta ar, mas não tem a ver com desencantamento. Nem com medo. Nem falta de plenitude, amor, felicidade. Eu só sei amar. Estava livre até às seis. Mas depois, me acomete uma prisão. Divido meu timbre, cansaço, lembrança. A novidade do momento me passa pela cabeça. Traz tanta certeza, mas há também uma tensão. Metade de mim chora por dentro. Implora pra eu pedir pra você me acarinhar. Debate com meu coração, eu até sinto uma ansiedade. Minha mão sua, não consigo ver a novela. Ligo a tv bem alto pra me acompanhar. Tem cerveja na geladeira e eu penso: “quem é que vai beber isso agora?”.

Penso em ligar pro meu pai. Mas só penso. Nesse estado, o começo de conversa só se daria chorando. Não queria essa carência. Minha liberdade quer voar com os passarinhos todos, nos ninhos muitos, mas com a sua companhia. Ou algo que me valha. Pra suportar a dor, me entrego ao docinho que persiste na geladeira há semanas. Mas é um daqueles cremes que a gente come quente, coloco no forno até esquentar. Eu e ele dividimos uma dúvida: melhor um inverno de geladeira ou um inferno no fogão? Devoramos nossas dores sem resposta. Ele perde a vida na minha boca. E minha boca perde o doce por querer tanta vida.

3 comentários: