Hoje vai ser a noite mais difícil. "Você tem que ser
forte". Escuto praticamente o tempo inteiro. Mas é véspera de feriado e a o afastamento me
consome. Acender o abajur agora é desconforto.
Delimita fronteiras nas minhas idéias. Eu chego em casa,
acendo a luz e sinto fome. Mas não como, falta vontade. Chocolate perde o
gosto, mas eu insisto. Bebo água e quase choro, parece banho... Nosso. Na nossa
varanda tá tudo tão bonito. As luzes sempre acesas, quietude. O movimento leve
do cachorro pesado, o movimento pesado do cachorro leve. Eu abaixo, passo um
carinho bem demorado nos dois... Que gostoso! Cada um deles em seu fluxo, ritmicamente vão se virando para mim. Parecem perguntar onde é que, o que me falta, está.
Entro em casa, Djavan roda sem parar. Último cd que ficou no
dvd da sala. Insistência. Ninguém olhando e eu quase choro. Não consigo ficar
uma semana sem aquela sua camisa cheia de botões cerados. Achei que
conseguiria. Deve ser a solidão, não tem nada além de mim dentro de casa. Na
minha memória, eu sinto o toque. Entreponho minha mão entre as frestas, eles
vão abrindo sem receio. Botões rasgando. Sem esforço, desabotoam. Desabam a
toa. É nessa hora: eu desabo.
Falta ar, mas não tem a ver com desencantamento. Nem com
medo. Nem falta de plenitude, amor, felicidade. Eu só sei amar. Estava livre
até às seis. Mas depois, me acomete uma prisão. Divido meu timbre, cansaço,
lembrança. A novidade do momento me passa pela cabeça. Traz tanta certeza, mas
há também uma tensão. Metade de mim chora por dentro. Implora pra eu pedir pra
você me acarinhar. Debate com meu coração, eu até sinto uma ansiedade. Minha
mão sua, não consigo ver a novela. Ligo a tv bem alto pra me acompanhar. Tem
cerveja na geladeira e eu penso: “quem é que vai beber isso agora?”.
Penso em
ligar pro meu pai. Mas só penso. Nesse estado, o começo de conversa só se daria
chorando. Não queria essa carência. Minha liberdade quer voar com os
passarinhos todos, nos ninhos muitos, mas com a sua companhia. Ou algo que me
valha. Pra suportar a dor, me entrego ao docinho que persiste na geladeira há
semanas. Mas é um daqueles cremes que a gente come quente, coloco no forno até esquentar. Eu e ele dividimos uma dúvida: melhor um inverno de geladeira ou
um inferno no fogão? Devoramos nossas dores sem resposta. Ele perde a vida na
minha boca. E minha boca perde o doce por querer tanta vida.
vc parece tao doce e tao bonita.
ResponderExcluir= (
ResponderExcluir"Ele perde a vida na minha boca. E minha boca perde o doce por querer tanta vida" caralho foda ein
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