Pus meu vestido vermelho gola v. O mais bonito. Comi quatro
brigadeiros grandes, feito criança. Lavei as mãos, fiz uma trança no cabelo e sentei
na sala sem ligar a tv.
“Eu o encontrei”. Quando minha mãe chegou, olhei-a nos olhos
e disse. Quando meu pai ligou, pausei uns segundos muda, e falei. Depois,
tratei de encontrar todos: os da infância, dos sabores de jabuticaba, as que me
olhavam nos olhos e aos que me queriam às costas. Contei mesmo a quem não
quisesse saber e aos que queriam, contava forçando a última sílaba, tratando
de enfatizar o timbre com mais emoção: “Eu o encon-trei”.
Às oito da noite, disse isso “tudo” a quem
mais me estimava. Bebi a tequila sem encostar no sal e limão. Fiquei doce e
eufórica a noite toda. Cheguei em casa antes da lua sumir no céu. Dormi no sofá
e quando acordei, sorri como num gesto de profunda satisfação. Peguei o celular, e liguei.
"E o que ele disse?"
Que não gosta que eu saia com meu vestido vermelho.
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