terça-feira, 29 de março de 2016

Las Dolores de Lolita



Quando semicerrei as pálpebras na claridade, a quietude do verde-musgo daqueles morros mesclou-se ao lodo nos seus olhos. Deslizei. Não quis mais do teu afago e nem senti o ardor de pertencer a terra em que plantei meus delírios.

Volto, porque Bukowski já amadureceu demais minha imaturidade, Nabokov estremeceu calafrios sórdidos entre as minhas coxas quentes, e Kafka insistiu que eu perseverasse a todos eles - meus erros, meus acertos, tudo aquilo que não lhe disse, do que não provei com vontade. Volto à origem dos sabores, à individualidade da introspecção, submersa nos encantos do que ainda é meu por direito. Voltei para buscar.

Volto das noites, e de longas e vazias horas de dores amargas, de sombrios devaneios, do que indaguei e construí, e por ironia, prontificou-se a me castigar. Levou-me toda a sutileza, meus passos alegres e pomares coloridamente silenciosos. A sensação do teu casaco quente e o perfume que aquecia tua nuca em noite gélida despiu-me os tecidos da fantasia. Fiquei muda, pois bem; Muda me faço para plantar-me em árvore nos jardins voluptuosos dos meus atinados desatinos.

Volto, porque voltar é preciso. Porque preciso. Os devaneios loucos dos meus sonhos de outrora não nos foram o bastante. Consumiram-me. Dia após dia desde que te parti.


Voltar. Que pra quem está do outro lado, significa partir. 
Parto porque preciso. Volto, porque ainda te amo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Científico, Método.

Cada partícula 
Eletromagnética do meu corpo quer
Tocar teu núcleo
Violenta mente
Fortuita, mente
Incidente nuclear

Princípio físico
De força bruta
Dissipa energia iônica
No caos
Do teu choque
Fere fogo, não sente medo
E pode 
Tudo.

Mutação atômica 
Intermitente
Da causalidade vital à
material radioativo
Não sente dor.
Acidente breve, intenso
E nosso.

Abalo sísmico,
Acerto é crítico.



Eu quero magnetizar você.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Sinergia -

Entre as milhares de definições que eu não tô nem aí pra entender, tem significado prático na minha modesta compreensão: Convergência. Conjunto, imenso. Largo encontro; Esse, Tempo, o Nosso.
Você tem uns cabelos bonitos de morena de alma limpa e cara lavada. Lembro ter batido os olhos em você e ter doído em mim. A agonia que a sinergia provoca. Algo sobre desbravar mundos e aspira-los, gratuitamente, junto ao bem.

É doce a exuberância. Chega a ter um toque de astúcia, exuberar num mundo de banalidades. É tanta gente, é tanta coisa, é tanta gente atrás de coisa. Propósito, cor, lugar, caminho. Poder.

E pode? Vida conter valia mesmo vazia?
Alma. Imensa, para buscar. Em minha presença, você reflete verdade. É isso que eu enxergo em você. Alma. E no meu desejo, que a vida se revele em sinceridades. Explosões de fúria para mudar o mundo. Explosões de ideias para traçar o caminho. Explosão no peito, pra dizer Sim. Às portas maravilhosas abertas, e às frestas.
Ao encontro sinérgico quiçá sinestésico que é acordar todos os dias. De alma limpa. E cara lavada.
Atinja, crie, toque, invente, inspire, conduza, delire, cause, intencione, aja. Haja mundo pra você nessa órbita.




Deixo à ela, meu desejos e metáforas sinceras. 
PAZ.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Atemóia

Estava à toa na vida, deitada no sofá, olhando o meu gato passar e cantando coisas de amor quando apareceu lá em casa essa tal de atemóia.  

Deitava estava e deitada continuei. Esticada, completamente aconchegada no meu mundo azul, sem pretensões de levantar ou me ocupar de algo que não fosse o deleite.
Era eu e uma playlist leve numa sexta à noite, ambos flutuando nas ideias.

Não sou explícita. A vida é inteira e graciosa quando apreciada bem devagarzinho.  Então, aos pouquinhos, fui me apropriando daquela novidade. Primeiro, os olhares direcionados a captar tudo que pudesse. Dá-se a isso o nome de percepção.  Aperceber-se de algo é ter consciência imediata, quase que intuitiva do que lhe atém. Serenamente, fui concentrando as intenções. Nada abrupto, às vezes é muito bom só aspirar bem-estar e prazer. “Bem-estar?”, que belo fim para as minhas tensões! Pensei comigo: -Coisa boa deve ser. Se só de ver já me trouxe peito cheio de carinho e satisfação.

Escamosa, verde, levemente madura, era consistente por fora e por dentro parecia ser mais do que “parecia”. E aparecia. Fácil aos meus olhos. Ficava ali exposta, perto de tudo que vejo, bem no meio da minha sala, numa fruteira bem bonita de vidro trabalhado.
Um bom lugar pra se estar. Uma boa experiência a se ter.

Seria um convite?
Sim, seria.

E eu, como boa entendedora, aceitei.
Inacreditável.
Inacreditavelmente doce.
Inacreditavelmente macia e doce.
Todos os adjetivos que eu teria para uma fruta.
Mas quanto mais a gente sente prazer em algo, menos a gente consegue falar sobre isso no momento. É deleitante. Como pode uma pessoa sentir tanta poesia comendo um fruto?

Isso é prazer.
Prazer com as coisas mais leves. Mas de sabores intensamente incríveis.
E depois que eu soube das proteínas, vitaminas, magnésio, zinco, cobre, cálcio e ferro? Ali encerrava a minha busca. Morango, amora, kiwi, caju, tudo ficou lá trás. Desintoxica-me! Esse é o maior poder da minha atemóia. Expansão de imunidade que eu sempre quis conhecer.
E traz leveza às minhas ideias, enquanto deslizo essas sementes pela boca.  
Dá vontade de ficar jogando de um lado pro outro assim, sem mastigar. Um paradoxo entre sabor, saliva e o prazer devorador da substância. Bagunça meus pensamentos milimetricamente mastigados, em pedaços suaves e crocantes. Pequenos flocos de açúcar mexendo com todo o meu ser. Nova percepção à tudo que conheço, um capítulo de paz e delicadeza.
Essa é a história da menina que se apaixonou por um fruto.
E o fruto dessa história,

É você.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Danças Fúnebres 1

Eu vejo um dia branco, vejo árvores magras com folhas presas por tênues fios, um bocado de neblina e três pardais. É domingo, estou sozinha.

Eu, deitada no banco do parque, usando minha echarpe vermelha, como alívio para o pescoço. Ergo a cabeça pra trás, machuca um pouco, parece que vou rachar. Mas vejo um mundo novo, ameno e de ponta cabeça. Quebra-cabeça. Quebro a cabeça.  E não reajo. Estive colocando um pouco de alma em tudo que vi na semana, mas hoje, hoje é domingo. Estou sozinha.

Estou levemente resfriada, respiro mal, escuto mal, esses tempos loucos de inverno e solzinho bom, sabe? Tudo tão singular. Os tempos de cobertas quentes e roupa pouca. Propício para um chá, um filme, um vinho quente e companhia. Mas hoje, hoje é domingo. Estou sozinha.

Parece que há mais gente nesse parque, quando cheguei não havia nada além dos guardas nas entradas laterais. Olhavam-me em confusão, dentro dos meus olhos, indagando "moça?". Não respondo, não hesito, apenas continuo. Olho fixamente para frente, sem visão periférica, sem direção. 
Mas agora estou deitada, desconfortavelmente, e escuto vozes que gritam. Algo que eu não entendo, mas sei - estão histéricas. Chegaram crianças no parque. Chegaram alguns adultos também, e os pássaros estão cantando estridentes. Há confusão e barulho. É domingo, há muita gente por perto.
Mas estou sozinha.

Alguma coisa além das folhas cai das árvores, não sei exatamente o que é. Observo calada, com os olhos meio cerrados, prendendo a visão pra corrigir a miopia. Mas nada além se revela. Parecem alucinações, a neblina entorpece alguns sentidos meus e tudo parece meio turvo. Embaça. Há imagens mentais se desmanchando em partículas de água. A cerração lutando contra o corpo, um pra me esfriar, um pra me aquecer.
Não há perplexidade. Aceito o transtorno em silêncio. Não há cor nem dor. Há um branco leitoso - do céu, e há a minha pele branca - de neve.

Não há tristeza. E não há o que chorar. É uma dança fúnebre. Tudo está sincronizado, o dessabor com a dissonância. As crianças estão cantando, os adultos falam, vez por outra gritam em tom repreensivo. Imagens que não vejo. Continuo deitada, metade da echarpe vai escorregando para o chão. É nova, macia, aveludada, vermelha. É a única cor que preenche essa desordem. Já não estou mais tão desconfortável quanto antes. Estou mais desconfortável que antes.
Mas continuo deitada. Não há reparo. É um domingo fúnebre.
Estou sozinha.

E não há mais o que fazer.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Calango e Caatinga

Luto pela sobrevivência. Senão, não luto. Só vivo, só-rio e mar. Mas sobrevivência é coisa séria, é o pesadelo do sertão no calor impiedoso. Pudera ele ser palco somente de saliva e suor. É quente a noite negra, estrelada. Mas ao dia, ao longo dia, ao meio-dia, essa luta por si só já está perdida.

O Sol que amanhece são, é o mesmo que cintila arrebol ao cruzar a Terra. Racha chão, seca açude e faz búfalo relinchar até morrer. E morreu, caiu e causou estrondo. Parecia até trovoada. Houve chuva sim; mas fora sangue saltando entre a poeira, em que tudo é cegueira, tudo é o nada. Até que se assentem os grãos de barro ressequido.

O Sol que é rei, é ressentindo e genioso. Quente. Misteriosamente atraente e temido. Até hoje, não soube se perdeu ou ganhou fechando o solo com tanta violência. A terra, que está mais para agreste, já esteve viva e alagada em mangue, já foi úmida e viçosa floresta; Bio-diversidade. Nem há pretexto pra castigo. Quem implica contigo são as matas de concreto! Mas o mesmo imponente Sol está selado a reflexões, se fazendo de louco, ou se fechando um pouco. 

A resposta está na atemporalidade? Se deixa entrar ele entra. Mas se fechar a porta e não deixar, ele entra também. Mesmo esquecido, a memória é vasta. Ignora os limites de espaço e tempo. Qualquer microporo é fresta boa. Para uma boa festa.

Festejo bom seria se esses fossem só raios do amor. Só amor. Mas há aspereza e ressentimento, há voracidade. Eu morreria de amor por esse Sol. Mas no sentido figurado da coisa. O Sol, irracional e insensato não processou bem as ideias. Mandou ver, matou mesmo. Só restou o solo rachado e um calango sassarico findando pé entre crânios de boi e cactos, ex-verdeados.

Tudo deu errado; Paciência. Sobrevivência é a arte de sob (o mesmo teto e chão) persistir na caatinga e  ainda viver.